sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Meu tudo (II).

Foi o que fiz. Fiquei lá sentada, calada. Os olhos cerrados, a boca selada, e as mãos presas.Observei aquela cena, processando-a em camera lenta para guardar cada detalhe, mas não consegui. Guardei menos do que esperava, guardei a quatidade exata para conseguir reproduzi-los depois no meu mundo. Repassei cada movimento guardado para lá. Repassei até com detalhes a mais, estes que não existem, mas a gente sempre coloca para ficar melhor. Fiz minha propria cena.
Esperei que no ápice fecharia os olhos para depois imaginá-lo no meu proprio mundo, mas não os fechei. Deixei-os bem abertos. Abertos o bastante para captar toda a luminosidade inexistente daquele momento - parecia real, mas eu sei que não era, melhor, eu preciso acreditar que não era. Preciso acreditar que aquilo não passou de uma simples cena casual, e que foi tudo mentira.- Deixei-os abertos e comecei a rir, não sei por que, mas ri. Ri, acho eu, por não saber o que fazer. Ri por achar que estava de olhos fechados e quem estava lá era eu, mas eu não me via, então não era eu.
Nunca foi eu, nunca foi e provavelmente nunca será. É impossivel, eu sei, mas no meu mundo não. No meu imaginário mundo tudo é extremamente real e compreensível. Parece que tudo fica mais facil quando eu passo para lá. Tudo fica claro, brilhante e perfeito. Do jeito que tinha que ser.
A cena acabou em alguns minutos, longo minutos. Livrei-me de mais um peso, mas ela se repetia em minha mente. Repetia. Repetia. Repetia. Tentei escapar, mas não podia. Cheguei a fechar os olhos, mas não conseguia esquecer cada detalhe. Todos os detalhes que guardei da primeira vez acumulavam-se aos novos que surgiam. Aquilo foi ficando real demais para mim. Eu não suportei e alienei-me ao exterior e fui para o meu mundo. Lá, eu estava simplesmente linda, a cena acontecia da forma mais natural o possivel. Tudo maravilhoso. Sabe, não sei se já mencionei, mas... no meu mundo tudo fica perfeito, tudo fica do jeito que eu quero. E é bom saber que ele nunca ficou opaco depois daquela cena. Foi até melhor. Tudo ficou mais colorido, radiante, pois, afinal, agora eu tinha os detalhes necessários para realmente transmutar aquilo para o meu mundo.
Meu colorido deixava de ser brilhante por alguns dias, mas nunca voltou a ser opaco. Chegou a ficar mais escuro, mas suas lindas cores continuavam lá, afinal, eu tinha aqueles detalhes guardados. Como numa estante eu os organizava por tipo de ação. E toda vez que meu mundo deixava de brilhar eu pegava um pouquinho nessa estante e ele voltava ao normal. É claro que todo vez que te via, ele chegava a brilhar tanto que transpassava-se no sorriso, mas eu sei que um dia, qualquer dia desses, um dia comum... Você, meu colorido, meu tudo, vai ficar para sempre aqui, no meu mundo.

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