terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Repetidas Vezes

E a esperou horas a fio sem êxito. No dia seguinte voltou ao mesmo banco surrado, sujo de barro daquela estação. Não havia o que temer, ela chegaria a qualquer instante. Sentiu o amargo da angustia enquanto lá mantinha-se sentado. A fome o acertou. Para que não perdesse seu lugar deixou que ela passasse. Meia noite, voltou para casa.
Eram quatro horas da manhã, ainda limpavam os trilhos do trem que há de trazê-la, e Chico já estava sentado no mesmo banco surrado, que por sua vez não mais sujo de barro como antes, pois a chuva o limpara havia algumas horas.
Um pombo pousou ao seu lado, tentou mandá-lo embora, mas refletiu e achou melhor ter uma companhia enquanto esperava por ela. Trouxe um lanche, o comeu. Sentiu-se, porém, insaciado. Na verdade sentiu-se vazio, vazio como um poço que há anos não recebe uma gota d'água. A esperança de "puxar seu balde cheio" após tanto tempo de espera não se esvaiu.
Pensou em sair dali e nunca mais voltar, pensou também que a trairia se o fizesse, pois prometera que ali estaria sentado quando quer esta voltasse.
Mais um dia passara, outro, mais outro... Meses passaram-se. Todo dia o mesmo ritual. Acordava às três e meia da manhã preparava um lanche, trocava-se e corria para o mesmo banco surrado, muitas vezes sujo de barro.
Por alguns anos ainda teve a companhia do pombo que um dia tentou espantar.Ficavam lá, ele e o pombo, horas e horas aguardando-na. O pombo um dia, porém, não apareceu. Chico o esperou horas e horas a fio sem êxito. No dia seguinte voltou ao mesmo banco surrado, sujo de barro daquela estação. Não havia o que temer, ele chegaria a qualquer instante...



Texto um tanto quanto baseado em "O Processo" de Franz Kafka.

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